Neste mês passei pela experiência de me tornar avó. Momento este em que voltamos no tempo, revivemos o nosso passado... Enquanto no papel de pais fazemos um longo estágio, aprendendo com eles e por eles, nossos filhos, a arte de criar e também de educar. De repente, em um sublime momento, ganha-se sem aviso uma neta; e isso sem ter feito nada, ao menos diretamente, para trazê-la ao mundo: nada de enjôos, de repouso, de licença ou dores de parto... E mesmo sem nada disso, como uma herança, um presente de Deus cai do céu para toda a família. Neste momento da vida sentimos que podemos, e também devemos, passar o bastão. Sentimos que a vida, como uma colcha de retalhos, foi se ajeitando e enriquecendo a nossa história. Confirmamos que, entre choros e abraços, a vida sabe criar as suas amarras, legando as suas experiências, valores e cultura própria da sua família. E tudo isso, de certo, é o que nos torna aptos a seguir escrevendo o por vir. Portanto hoje, como avó, vejo o passado com muita gratidão e abraço este presente iluminado com toda a serenidade. Com isso vem a deliciosa missão, e também a enorme vontade, de continuar ajudando filho e neta a vislumbrar o que guarda o futuro. Ver e sentir o fruto do seu fruto, a continuidade das gerações é, seguramente, um sentimento maravilhoso repleto de vida e, tenho certeza, um amor acima do amor próprio. E esse amor compreende também, pensando com o coração de um educador, a missão grandiosa de estimular o desenvolvimento cognitivo da criança: acolher novos conhecimentos e saberes, ampliar suas fronteiras e visões de mundo, aprimorar sua compreensão, enfim, sobre a própria vida... Isso me faz lembrar e confirmar, mais do que nunca, o dito popular: ”Esperança é paciência em forma de certeza”. A minha certeza é que a missão da avó transborda a sua característica de ser insuperável em doçura e afeto. Os avós devem cultivar um ambiente de tranquilidade e serenidade familiar, incorporando oportunamente as suas próprias experiências valiosas colhidas durante uma vida. Desse ambiente surgirá a confiança familiar necessária para compor as bases da educação da criança. Essa composição, ainda que de responsabilidade e comando dois pais, fica mais fácil quando estes, por suas vezes, se permitem beber das águas do saber oferecidas pelos avós. Existe, de fato, a cultura de que os avós devem mimar e, fazendo isso, as vezes “estragar“ os netos. Como educadora, e partindo dessa cultura, afirmo que mimar faz sim parte do educar e não são, veja você, abordagens excludentes de relacionamento com a criança, mas sim complementares. O segredo de tudo é, sem surpresa, a moderação. Uma relação ponderada de afeto deve estar presente entre a criança e todos os que a cercam, em ambiente social e, principalmente, no seu lar. O bom senso de moderação não é difícil de buscar, afinal ele é talhado ao longo de nossas experiências de vida que, justamente, nós avós temos muitas em nosso repertório e, portanto, muito a oferecer para nossos filhos e netos. Texto de Elenir Bernardi, publicado na Revista Glamour, em Maio de 2012 |
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