Por Danilo Netto Este é meu primeiro post aqui no Pimenta. Acho muito adequado, dada a orientação deste espaço, tratar hoje dos objetivos primários que norteiam a educação em si e posteriormente, nesse bojo, do papel central que a escola ocupa na formação de um indivíduo. Não nascemos prontos para enfrentar ou mesmo entender o mundo, quanto mais entender qual é o nosso papel neste. Precisamos, para tanto, de uma sorte incomensurável de instruções diversas, a respeito de uma infinidade de questões e situações que se apresentam no decorrer de nossa vida. A educação, sucintamente, consiste em fornecer à pessoa as instruções para que esta se desenvolva intelectual, social, econômica e politicamente. Nesse processo se trama a malha da individualidade de cada um, cujas linhas consistem, basicamente, das instruções que recebemos alo longo da vida. E estas instruções derivam, por sua vez, da matéria de nossas experiências e reflexões. E talvez essa seja a melhor definição do que é um indivíduo e porque ele é único e especial: não existem, na história do mundo, duas pessoas cuja manta mental tenha sido tecida com instruções rigidamente idênticas. Nas palavras de Paulo Freire, grande educador brasileiro: "Não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes”. Saberes diferentes implicam, portanto, em indivíduos. A maior expressão ou manifestação de um indivíduo se evidencia, contudo, em suas escolhas livres e ponderadas, que os guia para um estado ou objetivo desejado. Cada indivíduo pode, e deve, fazer escolhas durante o decorrer de sua jornada nesse mundo e extirpá-lo desse direito é, como já de consenso coletivo, uma forma de escravidão. Através dessas escolhas nos especializamos e nos definimos como únicos. Um jovem pode escolher ser médico, engenheiro ou escritor, se irá residir em sua localidade ou se lançará pelo mundo afora, se fará doutorado e será professor ou trabalhará numa grande multinacional, e se apoiará ou não determinações políticas governamentais, valendo-se de seu voto ou ainda se enveredando por uma vida pública. O fato é que escolhas – pelo menos as boas e conscientes – dependem de conhecimento prévio. Você prefere sorvete de chocolate ou pistache? Essa questão só tem resposta caso você tenha experimentado ambos os sorvetes e tenha instruções a respeito de seus sabores. Decisões a respeito de nossa vida – quem sou eu? O que me realiza como indivíduo? Quais as minhas aspirações profissionais, em ressonância a meus objetivos pessoais? – são incomparavelmente mais complexas e, portanto, dependem de um conjunto dramaticamente maior de instruções para que se aumentem as chances de se realizar boas escolhas. E boas escolhas significam única e exclusivamente aquelas que nos tornam indivíduos plenos e felizes. Dois fatos saltam aos olhos nessa verificação: Primeiro, é muito difícil conceber nosso lugar no mundo sem antes entender o mundo e a nós mesmos; Segundo, nenhum indivíduo tem todas as instruções sobre o mundo, apenas frações especializadas dessas instruções. Os gregos resumiram a importância dessa verdade em duas frases emolduradas pela história: “Conhece-te a ti mesmo” e “Só sei que nada sei”, esta também conhecida como doutrina socrática. A orientação que fica disso tudo, a meu entender, é que temos que nos valer de uma quantidade suficiente boa de instruções prévias, ou conhecimento, para que maximizemos as chances de tomarmos as nossas melhores decisões. O único indicador de suficiência de conhecimento, aquele que indica que se tem instrução o bastante para se decidir ou se agir, se chama bom senso. O diabo é se estabelecer o que é o bom senso. Nas palavras do filósofo francês René Descarte: "O bom senso é a coisa mais bem-repartida do mundo, todo mundo acha que tem o suficiente". E talvez se configure aqui o maior desafio que a educação tem de perseguir na esperança de talhar pessoas realizáveis e felizes: Formar indivíduos de bom-senso apurado, com grande capacidade de aprendizado, dotados de autoconhecimento, com um entendimento holístico a respeito do mundo que os cerca e, assim, com grande probabilidade de estabelecer um posicionamento coerente entre suas ambições pessoais e as possibilidades oferecidas pelo ambiente social. E a escola, como maior instituição de cunho educacional envolvida no desenvolvimento da criança e do jovem, tem, junto com a família, a maior parcela de responsabilidade nessa formação de bom-senso. Escolas de qualidade se preocupam em tudo que é necessário para fomentar esse bom-senso em seus alunos. Elas estão estruturadas com propostas pedagógicas integrais, com ênfase não apenas em conteúdo, mas também no desenvolvimento da personalidade e também do senso de civilidade do aluno. Desenvolvimento de personalidade não é secundário. Ele significa desenvolver, por exemplo, virtudes e características fundamentais aos vencedores, como a prudência (sabedoria e senso de discernimento), a temperança (senso de moderação), a justiça (senso do que é justo para si e para os outros) e a fortaleza (senso de atitude e coragem para agir, sem a qual, nada acontece). Todas elas virtudes de longa data apontadas como cardeais por Platão – na sua magistral obra A República – e essenciais para conquistar nossos objetivos pessoais. Aliás, como é facilmente constatável pelos exemplos que temos em nossa volta, pessoas de sucesso são aquelas que, além de uma boa formação, possuem uma boa dose de desenvoltura, atitude e habilidade social. E o que se deve notar é que uma boa formação “conteudista” não substitui uma formação de personalidade. Aliás, o que se nota é que pessoas mais extrovertidas e de maior habilidade social colhem mais vitórias na vida do que aquelas mais reservadas e sem iniciativa, ainda que estas últimas tenham uma formação universitária melhor. Evidente que o papel da escola, portanto, não se limita a expor toda a grade disciplinar que cobre assuntos de vestibular. Isso é importante, de fato, mas é o mínimo. Colégios que se focam integralmente nesta vertente são míopes e limitados e não percebem o óbvio: O profissional é desenvolvido tendo a pessoa como base, e não o contrário! Temos que cultivar a pessoa em primeiro lugar, sempre! Uma pessoa não se faz na faculdade, mas bem antes disso. Um jovem tímido e introspectivo não se torna um sagaz e extrovertido profissional porque passou a estudar na USP, Unicamp ou qualquer outra ilha de excelência técnica de nível superior. Essas instituições são ótimas pela qualidade de instrução técnica e pelos professores que têm, mas não são responsáveis por transformar pessoas em vencedores e líderes. A história faz questão de evidenciar isso: Biil Gates estudou em um colégio de formação integral e, como todos sabem, não chegou a concluir a faculdade que começara. A Microsoft veio antes; Gandhi, que freqüentou um colégio diferenciado na Índia, foi estudar na Inglaterra porque queria se municiar das armas necessárias para lutar contra a dominação de seu país. Quando pisou em na faculdade em Londres, já sabia quem era o que queria fazer com as instruções que receberia; Einstein não se incomodou de apontar que foi numa escola suíça, de educação integral, que ele conheceu a si próprio e as suas habilidades. Quando os três entraram no ensino superior, já tinham personalidade suficientemente estruturada para conquistar o mundo e, sem surpresa, o fizeram. É uma pena que tantos pais não enxerguem as coisas assim e não compreendam, portanto, a real importância da escola – juntamente com a família – na formação de uma pessoa. A verdade é evidente e explícita, mas, por falta de informação, muitos acreditam que os dezesseis anos que o aluno passa na escola se resumem a um grande curso pré-vestibular... Uma das maiores responsabilidades da escola é desenvolver o aluno como pessoa e, nesse sentido, ajudá-lo a descobrir quem ele é, quais as suas habilidades, talentos e motivações. E por fim, em vista disso tudo, ajudá-lo a identificar quais oportunidades a ele interessantes estarão esperando-o em época de formatura. Os méritos do formando podem e devem ser medidos por conquistas que vão muito além das faculdades que ele conseguiu entrar. Evidente que boas faculdades são um ativo importante no desenvolvimento de um bom profissional, mas, colocadas como única referência de sucesso acadêmico, podem representar uma tortura psicológica num momento importante da formação do jovem. Vencedores sustentam muito mais que um diploma, eles evidenciam autoconhecimento, visão de mundo e, principalmente, doses elevadas de atitude e bom senso. Quer enviar uma mensagem ao autor? danilo.netto@rno-1.net |
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